quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ponto Cruz

Peguei todas as músicas que tinham a palavra medo e teci um poema
De nós mal dados
De linhas arrebentadas
De pontos mal calculados
Medo de usar um retalho
Estampas ou pano liso?
Cruzei os pontos
Que tonto!
Tive que refazer
Sou tão péssimo em construir
Tão péssimo para tecer
Saiu um pano ao som do filme do Godard
O clássico me perturba
Eu só queria mesmo era bordar sem estar a mercê
De escolhas de tecidos, linhas, você
Não quero te desenhar em toda arte
Nem estampar uma parte
Do que não sou pra você
Não quero transparecer meu receio em todo poema
Eu quero é sair de cena
Até meu tecido ganhar uma forma
Um bordado, uma força, um som, um tom, uma cor, criatividade, netuno, plutão, sabonete, tesoura, discos, amigos, isqueiro, entorpecente, chuva, mar...
Até eu rasgar ele na loucura
Por não saber que ponto usar.
E nem desejei a cruz.
Rasguei na fúria. Loucura. Eu bordei loucura dentro de mim. Foi esse ponto que escolhi.

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