quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Jackie, a aranha

Jackie mora no meu carro
Ela é uma aranha sem vergonha
Enquanto eu ouvia Jackie Tequila ela se mostrou
Acho que ela curte meu som e veio dançar nas músicas que me deixam aflita
Não conseguia achar uma aranha bonita
Até ela aparecer
Eu entrava no carro e via várias teias tecidas
Cheguei a pensar que ela perdia tempo
Pra achar outro lugar pra morar
Aqui não tem mosquito pra ela capturar
Mas por dias ela me fez companhia
No tráfego intenso
Nas idas e voltas do dia a dia
Ela ia comigo da Leste ao Itaim
Da Avenida Paulista a Arthur Alvim
Jackie se escondia quando eu ligava o ar condicionado
Acho que ela não gosta muito do frio
Ainda bem que ela não mora onde eu durmo
Porque está uma bagunça
Parece até loucura mas sinto falta quando ela não deixa rastro
Pelo menos tenho alguém pra conversar até chegar no trabalho
As vezes ela não está afim de me ver
Ah tudo bem, nem sempre eu estou forte
As vezes sinto uma solidão de outra vida
Espaço gourmet que não sai comida
Me questiono as teorias do Big Bang
Ouço sinos de Belém
Como sobremesa antes do almoço
Dou risada do zíper aberto do moço
E não falo pra ele arrumar
Se Jackie ver essas coisas tenho certeza que vai querer mudar
Acho que ela curte meu Peugeot
E tem espaço no espaço vazio
Dá pra ela levar a bagagem dela para o porta-malas
Mas ela mora onde tudo é passageiro
No banco dianteiro, perto da porta
Jackie não apareceu hoje
Deve ter sentido meu jeito cabisbaixo
Só porque eu falei isso ela apareceu no meu braço
Que susto!
Não ligo se ela quiser ficar
Mas eu mesmo não estou aguentando
Debaixo do pé de jaca sentei chorando
São tantas indecisões
Falta de um plano
Medos normais
Bonecos de panos
Coisas que passam agora na minha cabeça que se eu fosse Jackie, correria
Não me acho tão fracassado
Mas não me enquadro onde queria
Eu também quero fazer uma casa de seda
Resistente a agonia
Sem ansiedade na porta da frente
Sem problemas no bolso de uma blusa que ficou na lavanderia
Queria uma teia ausente de fios soltos
Que me levasse ao caminho prático de resolver as coisas
Que não me deixassem presa esperando
É Jackie...você está certa você é só uma aranha, não vai fazer teias milagrosas pra quem não sabe nem andar sem deixar o carro morrer.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Não lembro mais de você

Estou esquecendo seu rosto
Quando te sonho, é sempre de costas
Eu não penso mais em você com carinho
Acho que tudo me distrai quando tento
O barulho do mosquito
O cheiro do café
As pessoas atravessando a rua no último minuto
Mas nada tem a ver com você
Eu não lembro mais do que você me chamava
E nem da sua voz
Seu olhar que nem disfarçava
Nenhum detalhe que seja bom
Eu não lembro das suas mãos
E nem da roupa que vestia
Do dia que você chegou com pressa
Da viagem que não foi de dia
Eu lembro do dia que a gente se perdeu
E eu nunca mais te achei
Porque você não quis
Porque eu não lembro mais como chego até você
Não sei seus horários
Nunca conheci um amigo seu
Eu não lembro mais nada
Nenhum fato marcante
Tudo insignificante
Você se foi
E eu fui para o outro lado
Não sei mais nada de você
E não me interessa
Porque eu não lembro como é me interessar por você.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A chuva na Victor Civita

Senti um cheiro de chuva chegando
E sentei na Victor Civita pra esperar
Aquela sensação da água me molhando
Era a única que me fazia ter certeza
que ali eu queria estar

Pessoas correndo pra lá e pra cá
Se cobrindo com o guarda-chuva
A mãe correu com a criança no colo
O homem se cobriu com a blusa

Eu só queria me molhar
E sentir vida em mim
Quis me remeter as viagens nos mármores e marfins

Inclinei a cabeça pra molhar meu rosto
Pude sentir meu cabelo gelado nas costas
Quis olhar do outro lado
Virei de costas

Achei que todo mundo corre tanto
E não contempla a natureza
Não dá pra sentir a limpeza da alma
ao proteger a cabeça

Mas dá pra observar a temperatura mudar
E seu corpo sentindo
Dá pra sentir a roupa ficando pesada
E você pressentindo

Em meio às árvores da praça passei e sorri
Olhei pro jardim vertical
Avistei os jardins existentes
E imaginei ser o meu quintal

Se você soubesse como chuva é bom
Você saia pra se molhar
Esquecia de pôr capa dê chuva
E deixava a água rolar...

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

o atraso.

O atraso.

De vida....
Do ônibus...
Do avião...
Da conta...
Da carta...
Do almoço...
Do moço...
Do encontro...
Do riso...

Se atrasar a legenda no filme, as cenas não são condizentes
Se atrasar de tirar do fogão o macarrão
A massa não fica al dente
O atraso traz tensão de chegada
De hora errada
De preguiça de levantar
Atrasar felicidade é coisa de doido
É arroz insosso
É igual perder a hora pro altar
Eu é que não quero perder o trem das onze
Nem o jornal das treze
Nem rir depois de acabar.
Coloquei o despertador na soneca
Ai dele se não tocar!
E atrasar o sorriso da minha manhã...
Ai dele!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Casais.


Fiquei olhando os casais se despedindo nos carros
O marido a deixando no metrô
A mulher o deixando no metrô

Vi o beijo que ela deu segurando o rosto dele
O beijo que ele mandou pela janela

Imaginei o perfume do abraço que ficou na blusa dele
E o gosto do chiclê de menta que ficou na boca dela

Ele fez a barba
Ela cortou o cabelo

Eles se despediram na Luz do dia
Igual o sol e a Lua
Mas a noite ele vai buscar ela
Ela vai buscar ele
E aquele cansaço do dia se esquece
e o beijo começa de novo

E o afago é mais gostoso
E ela dorme no peito dele
E ele beija a testa dela.

E amanhã eles vão se atrasar
Porque estava tão gostoso estar ali

Entrei no metrô e não os vi se despedindo...

sábado, 17 de janeiro de 2015

Mundo massante
Todo mundo faz tudo igual
Mente igual
Machuca da mesma forma
Canta a mesma música
Pra trabalhar usa uniforme
As mesmas historias mal contadas
O mesmo egoísmo universal
Põe pimenta no molho
tempera a salada com sal
Tô cansada de viver a mesma coisa todo dia
De não ter lado racional
De aguentar o que ninguém viveria
E não ganhar nada com isso
Só mais um dia
Mais algumas horas de ansiedade
me punindo
no escuro
inseguro
sem se quer alguém se importar
E se existir
É mentira.

Trepadeira

O dia não é suficiente.
A noite inteira não dá.
A saudade criou um tipo de trepadeira
Que toma conta da parede inteira do meu peito.
Dá para andar por entre as folhas
E te procurar lá escondida
Mas como eu disse
você deixa tanto rastro em mim
Que um dia, tarde, uma semana
e a saudade vai trepando no muro
É pouco tempo pra matar.
Num dá.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Bloqueio

Bloqueio.

A alma do artista entrou na contramão
as luzes dos carros o cegaram.
Ele pensa se os motoristas que estão conduzindo esses veículos sabem conduzir suas vidas tão depressa
Farol alto
Não enxergo nada.
Minha alma vaga sem rumo
Agora no acostamento
Não tem nada aqui na memória
Não tem poesia
Nenhuma história
Não tem desenho que fique bom
No primeiro risco, desisto!
Minhas emoções estão tão embaralhadas
Que o som não causa sinestesia
Não lembro de nenhum vinho bom
Mas tomo a seleta do dia a dia
As palavras não ditas não querem sair
Voz rouca
Se encontrar criatividade por aí
De um abraço nela
Se encontrar inspiração na mão contraria
a minha
Dê minhas referências
Sou o cara de blusa laranja
All star preto
Bigode, calça jeans
Fala pra ela me encontrar do outro lado
Se mesmo assim ela não me encontrar
Dê uma pista a ela
Sou o cara ali com a mente vazia de tão cheia.
Bloqueado. Vagando. Tentando.
Andando em direção a pista central
Quem sabe minha alma não descreva dores de atropelamento em um papel
Ou detalhes de como atravessou rápido a avenida congestionada
Se ela ainda assim não achar
Diga que mandei lembranças
Que a alma foi sem rumo buscar uma criança que até ontem morou em mim.
Acho que mudou
Porque eu mudei.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Fortuito

Tem horas que o coração aperta
e tenta passar Onde não cabe
numa aresta
Tem hora que os fatos do jornal e a notícia
não interessa
Mesmo que eu entenda todo o caso
Sinto falta do Abraço dela
Fico quieta num silêncio
Inquieto, maresia de afeto
Mas não nego, meu amor tem nome e número de telefone
Eu nem ligo
Deixo o dia que ela tiver tranquila
me procura e me Jura que é concreto
logo some e nem campainha toca
se toca, tudo que faz mal faz bem
Outro dia ela volta e me toca bem no rosto
sinto gosto dela, como o Beijo dela ninguém tem
E daí eu quero fazer tudo pra ela ficar bem
As vezes não consigo apagar as dores
Os rumores dessa vida de vai e vem
Mas eu gosto que ela sinta que quando vou dormir
É nela que eu penso, que agradeço por existir
Eu gosto que ela veja que não ligo dela me procurar de vez em quando,  só pra eu apaixonar
É que o nome dela vira rima
O rosto dela de menina
As mãos que gosto de sentir
O fato é que não ouço nada
Só o Ré e o Dó da sua risada
E tudo que você tem pra me dizer
Eu não ligo se é problema
Se você quiser saio de cena
Mas segunda-feira eu volto pra checar se você veio
Se tava de batom vermelho
E se já posso voltar a te ver.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Copo cheio de nada

Copo vazio.
É um copo cheio de vazio.
Não tá vazio
Tá cheio de nada
tem todo o vazio lá dentro
Um monte de espaço
Como pode estar vazio
Se tá cheio de lugar
Não tem água lá
Mas tem nada transbordando o copo
Se você apertar dos lados
o espaço diminui
Mas continua totalmente cheio de nada.

Corda Bamba

Ela anda na corda bamba
se equilibra
A corda balança,
ela se reequilibra
Ela tenta um passo
A corda não facilita
Ela respira
Se concentra
Anda sem olhar para baixo
troca de pé
Pé descalço
Ela se assusta
Mas não grita
Continua adiante
Determinada e aflita
Ela evita pensar em queda
Ela precisa continuar
Ela escorregou
Mas agarrou a corda bem forte
subiu de novo
Respirou e chegou do outro lado.
É uma menina de sorte.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

De: R.S.Lucca Para: Vanilla

De: R.S.Lucca
Para: Vanilla


Fique calmo.
A leveza virá como a pena de um pássaro.
Cairá como uma luva nos seus dias de mãos geladas.
Basta você acreditar no fato.
Querer viver sem culpa de nada
Entender que há falha
Mas também há emoção
Haverá dia de chuva
E dia de insolação
E você acha que só porque tá sol ele não vai queimar até arder?
Faz Até bolha
E você escolhe se quer se proteger
A motivação está escondida no seu peito
Você precisa afirmar na alma que vai dar certo de qualquer jeito
Entonar uma música e dançar com ela
Escolher uma paisagem pra achar bela
Não se culpe pelos seus erros
Todo mundo precisa errar para ter parâmetro de comparação com os acertos
Seria muito chato não enxergar ascensão
Não ver que conseguimos vencer um medo
Que podemos suportar o amor sem a expectativa da dor
Os humanos são banais certas vezes
Não se externize para qualquer um
Criou-se uma geração de julgadores
Eles nem conseguem olhar nos olhos
Te proponho pegar uma estrada sem rumo
Siga o que atrai seus olhos
Escolha os caminhos sem pensar Onde dá
E lá encontre prazer no que escolheu
Ache algo de bonito
Mesmo que sua alma se desmanche noutro grito
Você vai sentir que vento no rosto te faz te querer viver num sopro
Sem depender de outro
Apenas encontrando o prazer de ser você
Faça uma escultura com os seus tédios
Não dependa de certos remédios
Desprenda a capa que esconde seu ser
você vai se sentir melhor se você deixar a chuva molhar seu cabelo
Tente! Tenha zelo!
Cuide bem de ti mesmo, eu não posso fazer por você. Mas posso dizer com toda minha força na alma que você consegue!
Se eu estou aqui e consegui, você tem munição para agir. Você só se perdeu querido. Volte a se achar.
Um Abraço forte. Em breve nos encontramos de novo.

De: Vanilla Para: R.S.Lucca

De: Vanilla
Para: R.S.Lucca

Você precisa me ajudar.
Meus pensamentos ainda estão perturbadores.
Sinto medo de descobrirem algo.
Sinto muita vontade de entrar no carro e só ficar lá dentro com ele trancado, sem eu estar em movimento.  Pra ter a sensação que posso ir, que tenho a chave nas mãos,  mas minha escolha é ficar imóvel, inerte, atônito.
Eu me sinto inseguro até para tirar uma mosca zunindo no meu ouvido.
Eu li o estudo de Freud relacionando luto e melancolia. Me vi ali naquele texto, preso como um pássaro na jaula. Preso a um corpo sem alma.
Eu ouço gritos. Eu sinto agonia. Você precisa me dizer como agir. Eu quero conseguir. Mas a voz não sai. A vontade não brota no meu ser. Meu joelho se dobra e não ouço a voz de Deus. Eu continuo entendiado. As pessoas me julgam, dizem que tenho tudo que preciso pra ser feliz, mas elas não sabem de nada. Não moram dentro de mim pra saber que está sangrando sem parar. Eu não sei ser outro. Estou atado. Mas meus dias precisam ser melhores para eu conseguir achar um sentido para estar aqui. Esse estou eu. Espero que esteja muito bem. Até breve.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Andando pela cidade em busca de identidade
idoneidade
Em busca de qualquer sentimento
felicidade
Algum movimento
atividades
Querendo esquecer
minhas verdades
É um mix de fatalidade com algo incrível
uma procura incansável
indescritível
você entra nesse sabe ou não sabe
tá enrustido
E meu coração vai batendo junto com as horas do relógio de algarismo romano
as horas não passam
o tempo parando
Mas quem anda sem rumo sempre busca o que preencher
Detalhes, olhares
Alguma coisa que lembra alguém
Rumores, amores
Viagens de trem
um transe de sucesso com fracasso
um embaraço
pra quem tem dúvidas
espaço
pra quem faz cálculos todo dia
trigonometria
Pra quem só busca diversão
Alegria
Eu só quero preencher os vazios
dessa vida
Talvez alguém me explique o plano
Se é claro ou escuro
se vai repetir esse ano
vou pra esquerda ou direita
Ouço um jazz ou Caetano
talvez eu não escreva condizente
Só coisas confusas saiam da minha mente
serão idéias sortidas
barras de chocolate
balas de goma...coloridas?
São textos sem conclusão
Vontade de expor paixão
continuidades incertas
porão de coisas velhas
É sentimento contido
eu não tenho mesmo juízo
São jantares sem negócios
porque eu como qualquer troço que mata minha fome
Não tem frescura pra quem sabe o que quer
Mas se não sabe
Fecha a porta poeta e escreve o na cabeça vier...

Pense em quanta gente que também é assim. Sem sentido. Sem tempo. Sem medida. Sem nada pra discutir.
Me desculpe mas meu templo de mim mesmo tem muito o que descontruir e outra vez construir. É assim.

Meu sonho.

Folhas em branco voavam em volta de mim
como um tornado de papel
no céu
Mas pareciam Serafins dependendo de como se olhava
Eram histórias não escritas ?
Folhetos ?
Poemas não confeccionados?
Não sei.
Eram folhas sem nada.
Não entendi bulhufas
coloquei meu óculos
E fui pagar as contas do mês.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Ela também machuca

Ela me magoa como um adulto
Mas também me consola como uma criança
Tem cheiro de plástico novo
Mas quando quer me afastar seu perfume exala forte
Sem vento
Sem sorte
Me empurra para o norte
Ela tem uma voz que encanta meus ouvidos
Mas basta uma palavra atravessada
que fere mais que navalha na carne
Ela muito me atrai
Mas também me distrai
Meus sentidos a querem como eu quereria água no deserto
com qualquer futuro incerto
com qualquer palavra torta
Mas quando recebo palavras indigeriveis
Eu preferia entrar em qualquer buraco de minhoca
E não saber que ela existiu.